Entrevista exclusiva do Freixianda.Blog ao Chefe dos Bombeiros de Freixianda

Ciclo de Entrevistas a Pessoas ou Órgãos influentes da Freguesia de Freixianda

Entrevista nº 2/2010
Visado: Chefe da 6ª Secção de Bombeiros em Freixianda – José Luís Marques de Brito

Introdução
O Chefe José Luís Brito é Bombeiro da 6ª Secção desde o dia 19 de Maio de 1985. Consigo trás ainda o Bombeiro de 1ªClasse – Armindo Oliveira. Ambos, celebram hoje, dia 19 de Maio, as bodas de prata de uma excelente dedicação a esta instituição. Ambos celebram 25 anos de momentos bons e menos bons, muitas dificuldades, muitas glórias e hoje são os dois pilares que ainda sobram dos primeiros tempos de Vida da 6ª Secção dos Bombeiros Voluntários de Ourém, em Freixianda.
Para além da sua actividade profissional ligada à climatização, como gerente da empresa Termofrex, Lda, o Chefe José Luís Brito, ou Chefe "Zé Luís", alberga toda a responsabilidade daquela instituição que hoje comemora 25 anos de existência. É sem dúvida uma actividade de grande responsabilidade, onde a dedicação e poder de conciliação com outras actividades e vida familiar são de grande importância.

Freixianda.Blog (FB) – No Dia 19 de Maio de 1985 foi inaugurada a 6ª Secção dos Bombeiros Voluntários de Ourém, destacada em Freixianda. Como surgiu esta ideia?
Chefe José Luís Brito (JLB) – Com o crescimento da Freixianda, pela distância de Ourém e porque já existia uma Ambulância que fora oferecida por Emigrantes dos Estados Unidos e que estava entregue à Junta de Freguesia, começou a surgir a ideia da criação de um Corpo de Bombeiros. Como na época o Comandante dos Bombeiros de Ourém, (saudoso Joaquim da Silva) era grande frequentador do mercado da Freixianda, todas as Segundas-Feiras, cá estava e não passava sem ir almoçar ao Restaurante Cardal. Sendo grande amigo da Dª Celeste e do Sr. Alfredo, logo se começou a falar que seria mais fácil a criação de uma Secção destacada dos Bombeiros de Ourém. A estas vozes juntaram-se outras às quais fazia parte também o “Zé Maria Pintor”. Em pouco tempo se trataram as questões burocráticas e houve autorização para criar uma Secção dependente dos Bombeiros de Ourém. Abriram-se inscrições, às quais acorreram cerca de 80 homens, no entanto, pouco tempo depois, na segunda reunião já só restavam 22 e foram estes que depois de mais de um ano de formação fundaram a Secção, sendo que o exame para Bombeiros foi-nos feito pelo Comandante Operacional Nacional, o Sr. Gil Martins no dia 25 de Março de 1985.

FB – Certamente foi um dia de festa, alegria e muita emoção. Quais os momentos que nunca mais esquecerá?
JLB –Todo este dia foi um inesquecível dia de festa, mas de muita apreensão, isto porque tínhamos a noção de que um Bombeiro não serve apenas para apagar fogos, grandes responsabilidades começavam, mas penso que o mais marcante foi a nossa formatura com a colocação das divisas e o desfile pelas ruas da Freixianda. A partir daquele momento éramos uns orgulhosos Bombeiros de Portugal.

FB – O Chefe José Luís desde o primeiro dia que acompanha de muito perto este corpo de Bombeiros. Qual o balanço que faz destes 25 anos?
RV – Muito positivo! Óbvio que houve momentos menos bons, mas foram ultrapassados. São 25 anos de muita dedicação de algum sacrifício, de muitas horas sem comer, sem dormir, de muito cansaço mas tudo num ambiente de muita camaradagem e a certeza do dever cumprido.

FB – Entre Homens e finalmente Mulheres, de quantos elementos dispõe neste momento?
JLB – Neste momento somos 26 elementos, 20 Homens e 6 Mulheres, todos são Bombeiros à excepção de três elementos femininos que são ainda Estagiárias mas que farão exame no próximo ano.
Todos os elementos, incluindo os estagiários, têm formação em várias áreas, nomeadamente, cursos de Socorrismo, desencarceramento, incêndios florestais, incêndios urbanos e industriais entre outros.

FB – Como todos sabemos, ser Bombeiro Voluntário exige muito esforço, disponibilidade e sacrifício pessoal. Sente dificuldade em recrutar novos elementos?
JLB – Neste momento a secção está a atravessar um bom momento, há um bom ambiente, há mais meios de socorro, temos uma Liga de Amigos da Secção que está a fazer um excelente trabalho, temos um óptimo relacionamento com os colegas de Ourém e com a abertura à classe feminina já no ano passado tivemos bastantes inscritos. Este ano com abertura de inscrições, esperamos a entrada de mais elementos.

FB – De há 25 anos para cá muita coisa mudou. O que é que hoje esta diferente e em que medida contribuiu para prestar um serviço mais rápido e eficaz às populações?
JLB – Sem margem para dúvida a contínua formação que hoje temos, depois mais e melhores meios.
No combate a incêndios, passámos de uma velha viatura, a duas viaturas, uma ligeira e uma pesada, este veículo além de tracção total está equipado tanto para incêndios florestais, como para urbanos.
Fruto dos peditórios que temos feito e de alguns Beneméritos, temos equipamento de protecção individual (fatos Nomex, capacetes de protecção e botas especiais) para incêndios urbanos. Para o serviço de saúde, dispomos de duas Ambulâncias, uma delas classificada de “socorro” embora o equipamento das duas seja semelhante. Temos o desejo de vir a ter um veículo exclusivo para incêndios urbanos e desencarceramento mas é necessário trabalhar muito para ele. Também necessitamos de um grupo gerador de energia e uma moto-bomba.

FB – E em relação à “Casa Mãe” - Bombeiros de Ourém, Câmara Municipal, Junta de Freguesia e população em geral, tem tido o apoio que necessita?
JLB – Da “Casa Mãe” como diz, temos todo o apoio possível. Da Câmara Municipal, recentemente efectuaram e apoiaram em algumas obras no quartel. Por parte da Junta de Freguesia, tem-nos apoiado dentro das suas possibilidades, dispensando pessoal para trabalhos, entre outros. Por fim, da população em geral, a pouco e pouco vamos sendo reconhecidos e sinto que todos têm um carinho especial pelos Bombeiros, não só por nós, mas por todos. Ainda há poucos dias, no seguimento de uma operação de socorro, um familiar da vítima me disse desconhecer que a Secção estava tão bem equipada e com socorristas à altura.

FB – Nesta última questão e a poucos dias de comemorar 25 anos de Bombeiro Voluntário, o Freixianda.Blog só lhe pode pedir que nos diga o que lhe vai na alma.
JLB – Pergunta complicada, resposta difícil. Estou a chegar à idade limite, tenho 61 anos e só posso estar no quadro activo até aos 65 anos, não me vou reformar porque os anos de Bombeiro não contam, de qualquer maneira, penso depois acompanhar de perto a vida da Secção e ajudar no que puder. Tenho cá dentro dois filhos e muitos amigos que respeito e que me respeitam.

FB – Para finalizar… Deve com certeza guardar muitas histórias engraçadas. É capaz de nos contar a que nunca mais lhe sairá da mente?
JLB – Histórias engraçadas, ou com final feliz … (risos), foram algumas, neste momento ocorre-me uma. Uma noite estava de serviço, recebo por volta da 01h00 da madrugada, um telefonema de um café da zona pedindo uma Ambulância para um Sr. que numa rixa tinha levado uma “machadada na cabeça”. Saí e no caminho fui imaginando vários cenários. Imaginei que ia ver um machado alojado numa cabeça, eu imaginei tudo e ao mesmo tempo pensando de como deveria agir, até que cheguei ao local e não vi ferido algum, no entanto estavam diversas pessoas a quem perguntei pelo tal ferido ao que uma me responderam que o ferido «foi atrás de quem lhe deu com o machado». Não deveria ser grande a ferida pois regressamos ao quartel e nunca mais fomos chamados.
Faz-me lembrar a «história da guerra» do saudoso Raul Solnado:
«Capitão, fizemos um prisioneiro!
Onde está?
Não quis vir!!»

O Freixianda.Blog agradece a sua disponibilidade e felicita-o por 25 anos de dedicação a este corpo de Bombeiros. Resta-nos desejar-lhe as maiores felicidades na sua vida pessoal, profissional e de Bombeiro Voluntário.
Em nome de toda a população MUITO OBRIGADO a si e aos seus Bombeiros e Bombeiras!