"Resposta Rápida" - cap.1 - A Escola da minha vida...

"Resposta Rápida" é uma nova rubrica que completa o Freixianda.Blog.

O encerramento de várias escolas na freguesia é um assunto incontornável neste início de ano lectivo. Devido à sua importância, à divergência de opiniões que tem gerado e acima de tudo, porque está em causa a defesa dos interesses superiores dos alunos, o Freixianda Blog resolveu abordar este tema.

Neste âmbito, falamos com o professor João Filipe Oliveira, docente no Agrupamento de Escolas de Freixianda há 18 anos e registamos aqui a sua opinião.

Freixianda.Blog (FB) - O Governo decidiu encerrar algumas escolas com o objectivo de concentrar todos os alunos num Parque Escolar na sede da freguesia. Não estando construído, neste momento, qual a sua opinião em relação a esta decisão?

Prof. João Filipe Oliveira (JFO) - Há aqui dois grandes enganos: primeiro é encerrar as escolas antes de haver alternativas. A ministra da educação tem dito que as escolas encerram e que os alunos são transferidos para escolas com melhores condições. Isso não acontece na Freixianda, a população está a ser enganada. O segundo grande engano é partir do princípio que escolas maiores oferecem maior qualidade. Não é verdade, é o contrário. No estrangeiro, por exemplo nos Estados Unidos, estão a fazer precisamente o contrário do que é agora moda em Portugal, estão a dividir as grandes escolas em pequenas unidades, mais humanizadas, mais fáceis de gerir. Na tão falada Finlândia, que aparece sempre no “top” da qualidade dos sistemas de ensino, desde há muitos anos a opção é pelas pequenas escolas. Esta moda portuguesa dos mega centros-escolares anda atrasada pelo menos uns 15 anos.

FB - Do ponto de vista da promoção do sucesso educativo e do próprio bem-estar dos alunos, qual a importância deste Parque Escolar?
JFO - O sucesso educativo e o bem-estar dos alunos depende das boas condições que sejam criadas, dos bons professores, dos materiais disponíveis, da alimentação, do convívio com outras crianças. Tudo isso podia ser proporcionado nas escolas pequenas.
As escolas de grandes dimensões falham sobretudo ao nível da socialização. As crianças mais frágeis estão menos protegidas. As turmas são maiores, a atenção a cada aluno é menor, a gestão dos espaços de convívio é mais problemática. Um exemplo concreto: um recreio com uma ou duas centenas de meninos e meninas é complicado de gerir, como é que se organiza, por exemplo, um jogo de futebol com tanta gente? Ou a fila para o bar e para a cantina? É a técnica da sardinha em lata.
E não esquecemos o custo destas obras novas. Num país que parece não conseguir controlar o défice e a dívida ao estrangeiro, o Estado continua a viver acima das possibilidades. E é à custa dos contribuintes, porque alguém tem de pagar isto tudo.
No caso da Freixianda, a obra vai valorizar a sede da freguesia, sem dúvida, mas é à custa dos lugares à volta, que ficam a perder. A desertificação não pára.

FB - Tendo em conta a sua experiência como professor, quais as dificuldades sentidas em trabalhar com um grupo reduzido de alunos e de diferentes níveis de escolaridade?
JFO - Acho mais fácil e mais eficiente um professor trabalhar com pequenos grupos de alunos, mesmo que sejam de níveis diferentes. Na verdade os alunos nunca avançam todos ao mesmo ritmo e, nas condições ideais, o professor deveria poder acompanhar individualmente cada aluno. Cinco ou seis alunos no máximo por professor era o ideal, mas era um luxo que o país não poderia pagar. Os pais que têm dinheiro para pagar explicações procuram este modelo de grupos reduzidos e atenção particular às dificuldades de cada um. Concentrar muitos alunos em grandes unidades é o anti-ideal, fica mais barato, mas tem qualidade inferior.

FB - Os pais/encarregados de educação e população em geral mostram-se revoltados com estes encerramentos. Poderá existir um dilema entre a razão e o coração?
JFO - Muitos pais e a população mostram-se revoltados com razão, na maioria dos casos. Não é preciso ser um iluminado para perceber que não é progresso nenhum fazer levantar os filhos às seis da manhã para os enfiar num autocarro que os leva para uma escola distante, onde passam o dia sabe Deus como, para só regressarem já de noite. Só as mentes brilhantes dos gabinetes ministeriais e de algumas Câmaras é que acham que estão a fazer um grande favor ao país encerrando os poucos serviços que restam na “província”, como eles chamam às nossas terras. O deslumbramento com a massificação das grandes cidades não é contagioso, felizmente. Muita gente ainda gosta de viver em aldeias. Só é pena que cada vez tenham a vida mais dificultada.

FB - Esquecendo um pouco o lado profissional, qual a sua opinião na condição de pai?
JFO - Interessa-me mais a qualidade dos professores e preferia uma escola com pouca confusão, onde cada aluno pudesse ter a necessária atenção dos adultos. O essencial na educação não são os equipamentos, e edifícios, são os recursos humanos. Espero que o novo centro escolar cumpra estes requisitos. Enquanto cidadão, sou sensível ao desperdício de recursos e à desertificação das pequenas localidades que estes novos centros escolares representam.

11 comentários:

Carlos Pereira (Freixianda/Lisboa) disse...

a centralização dos serviços numa só escola, tal como diz o professor João, só vai favorecer a desertificação.
Eu penso que todos ficamos a ganhar ao nível das condições físicas, porque calculo que se tratará de um espaço moderno, com melhores condições tecnológicas, com um bom recreio, entre outros, no entanto as velhas escolinhas, devidamente requalificadas seriam uma mais-valia para os nossos filhos, para o futuro da nossa educação, e consequentemente, para a apredizagem mais fácil e cuidada dos alunos, com mais dedicação por parte do professor.
O futuro trás realemente um grande afastamento das pequenas aldeias. Será este um afastamente a curto, médio, ou longo prazo? Fica a pergunta...
Senhores leitores esforcem-se por ajudar estes rapazes que se esforçam em fazer um espaço destes. Comentem mais os artigos.

Unknown disse...

Foi anunciado um investimento de 1,9 milhões de euros na construção da nova escola da Freixianda: 8 salas de 1.º ciclo, 3 salas de Pré-escolar e uma série de serviços. É verdade que 1,9 milhões de euros permitia requalificar seriamente as 3 escolas a abater (Lagoa do Grou, São Jorge e Formigais), além da velhinha escola da Freixianda.

Anónimo disse...

Alguém já pensou que existe a possibilidade real de dentro de dois ou três anos a Lagoa do Grou por ex.ter apenas 4 ou 5 alunos?
Será que val a pena requalificar esta escola sabendo que pode fechar a qualquer momento?

Anónimo disse...

A este ritmo de incentivos á desertificação, até o centro escolar (que ainda será construindo) da Freixianda em 2020 terá 5 ou 6 alunos……
Temos um P.D.M. que força as pessoas a construírem casa no centro da vila porque tudo o resto é zona verde /agrícola ou em risco de cheia (mesmo que em 100 anos nunca a agua lá se tenha aproximado).
Embora já resolvido, o caso da segurança social, é sintomático da centralização que o governo nos quer impor. Á 15 anos reivindicavam um posto da G.N.R. ,uma via rápida a ligar a Freixianda a Ourém ,e até o actual presidente da câmara prometeu na ultima campanha um pólo da câmara ,hoje em dia temos de lutar ,por manter o que já temos .
Quanto às escolas tinha algumas duvidas mas depois de ler a entrevista do prof.Joao, fiquei convencido de que o tal centro escolar, poucas ou nenhumas vantagens trará, e concordo com ele, quem gosta de viver em aldeias cada vez está mais tramado!!!! os nossos governantes contribuem e muito para a desertificação do país .
Maria da Fonte

Unknown disse...

A questão da Lagoa do Grou também se pode colocar de forma inversa: se daqui a dois ou três anos só houver lá meia dúzia de alunos, isso deve-se a quê? Ou a quem?

Se a freguesia da Pelmá seguisse o mesmo pensamento, se calhar não estava agora a ir buscar alunos à Freixianda.

Norte Freixianda disse...

É uma realidade nacional a redução do número de alunos nas escolas de localidades do interior.

Não é o que mais me preocupa na nossa freguesia... nós temos várias familias residentes, mas escolhem escolas de outras freguesias para os seus educandos. Deste problema ninguém fala, será porque não há consciência que tenha consequências graves ou não há mesmo qualquer solução.

Não tenho filhos, mas se tivesse, escolheria aquela que melhor condições oferece, e não há dúvida, colocaria na Pelmá.

Anabela disse...

Vamos ter um centro escolar para quem? Os pais e encarregados de educação que, em circunstâncias normais colocariam os filhos no Agrupamento da Freixianda, já se aperceberam que o concelho vizinho oferece condições muito mais atractivas. Qual é o objectivo neste momento no que diz respeito à educação no nosso concelho? Será que nesse novo centro escolar as condições de acesso (principalmente a nível financeiro) serão melhoradas? Se não o forem, parece-me que não vão precisar de tantas salas. Porquê pagar se podemos ter melhor "à borla" ou quase?
Como residente da Freixianda, parece-me que se chegar à idade da reforma, estarei numa freiguesia com uma população muito envelhecida e pobre, pois, se os nossos filhos, nos seus primeiros anos de escola, estiverem noutro concelho, já não ganham cá raízes e não voltam.
Pretende-se igualdade de oportunidades para todos,mas isso está muito longe de acontecer. Será que estão à espera que a freixianda desertifique para ter ajudas de estado para a repovoar???

Norte Freixianda disse...

Supondo...

Estamos no ano de 2015, com os atrasos típicos das construções a vila de Freixianda, está finalmente a inaugurar o seu Centro Escolar. Apresenta todas as infra-estruturas necessárias, destaca-se o seu elevado avanço tecnológico.

Este ano o meu filho irá frequentar o 1ºciclo, deparo-me com um dilema que escola escolher! Na freguesia temos um edificio que todos se orgulhamos, mas na Pelmá asseguram de uma forma mais atractiva o transporte, a alimentação, as actividades de enriquecimento curricular, a ocupação dos tempos livres, entre outros. Já decidi...

Paula disse...

Caro, Norte Freixianda
A presença de uma instituição escolar deste âmbito apresenta-se como um “marco” importante para a nossa freguesia, este novo Centro Escolar vai aumentar a qualidade da educação uma vez que “as quatro velhinhas salas de aula” da Escola EB1 de Freixianda, não chegam para uma multiplicidade de actividades que hoje se desenvolvem na escola.
A dimensão dos novos Centros Escolares permite colocar à disposição dos alunos, das equipas educativas e das famílias recursos humanos – equipas multidisciplinares – que até hoje, devido à dispersão da população escolar, não respondiam bem às necessidades das famílias. A partir de agora, os alunos e famílias terão o apoio permanente de uma Assistente Social, uma Psicóloga, de Animadoras de Pátios/Recreios, de Professores Especialistas para Alunos com Necessidades Educativas Especiais e de Técnicos Especialistas para a Promoção de Educação para a Saúde.
Estes novos Centros Escolares permitem também mais e melhores Actividades Extracurriculares abertas a todos os alunos, mais e melhor utilização de Tecnologias da Informação e Comunicação e uma melhoria esperada no desenvolvimento das AEC (Actividades de Enriquecimento Curricular).

Bem, espero que assim seja…….

O mais importante é o facto de os novos Centro Escolares permitirem a constituição de turmas por anos de escolaridade. Hoje há escolas em que no mesmo espaço e no mesmo tempo o professor lecciona os 4 anos, ou 2 anos, e os alunos vivem um quotidiano de confusão com evidentes repercussões negativas na aprendizagem.
Nos Centros Escolares cada turma terá apenas um ano de escolaridade, o Professor leccionará os conteúdos previstos para esse ano. Esta nova realidade fará toda a diferença e colocará todos os alunos, em situação de igualdade – o que manifestamente não acontece na freguesia vizinha.

Esperamos agora que os responsáveis deste concelho percebam que o transporte é importante, que tentem arranjar locais de recolha que facilitem e minimizem os custos de transporte.

Espero ter ajudado na sua difícil decisão……

Unknown disse...

A Paula, sem dúvida, apresenta o quadro ideal. Mas não apresenta o quadro real. Eu não acredito que o futuro centro escolar da Freixianda venha a ter todos esses recursos humanos que figuram nessa visão ideal. Simplesmente não acredito.

Depois, em relação à presença de vários níveis de ensino numa mesma turma nas pequenas escolas, há que não esquecer que o facto de haver mais salas disponíveis não impede que as turmas continuem a ser mistas. A actual escola da Freixianda, por exemplo, tem salas suficientes para formar uma turma para cada ano de escolaridade, uma para alunos do primeiro ano, outra para o segundo, etc. Mas isso nem sempre acontece. Misturar dois anos de escolaridade na mesma turma é comum, tanto em escolas pequenas como em escolas grandes.

Se o tal cenário ideal se concretizasse e, ainda por cima, não se gerassem novos problemas com a concentração excessiva de alunos, então eu diria que os benefícios superavam os custos. Mas a concentração de muitos alunos desta faixa etária produz problemas que não são irrelevantes. Por exemplo, nessas idades os alunos ainda são pouco autónomos a tomar as refeições. Quantos funcionários serão necessários para acompanhar o almoço de 100 crianças? E a Câmara vai assegurar esses funcionários? E para garantir que as brincadeiras no recreio decorrem em segurança. Mais de 100 crianças a brincar não é fácil de controlar.

Acontece que o novo centro escolar da Freixianda, depois do encerramento das escolas que falta encerrar (e veremos se o Fárrio não passará a ser englobado também), em 8 salas não fica com capacidade só para 100 alunos, mas sim para mais de 160! São muitos alunos.

Anónimo disse...

Mas afinal as escolas vão fechar e o novo centro escolar ainda é apenas uma ideia, para onde vão as crianças?
A Paula é uma crente, psicólogos, assistentes sociais, até palhacinhos no intervalo, professores do ensino especial e que mais? Mesmo sem me considerar o novo zandinga, atrevo-me a prever algo menos simpático...
Norte Freixianda honra o teu nome e em vez de fugir para a Pelmá, ajuda a mudar a freguesia que ostentas na tua assinatura ….

jorge bucho