O Tribunal de Ourém decretou a pena de prisão preventiva ao casal. As três crianças que tinham à sua guarda foram entregues a familiares.
“A Paula nunca faria tal coisa”, comenta quem conhece a dona da casa onde foi encontrada uma autêntica “fábrica” de droga no Vale da Perra, freguesia de Atouguia, Ourém, na quarta-feira, 20 de Julho. Esta é uma aldeia pequena, quase deserta boa parte do dia. Não existe sequer um café ou uma associação. A escola primária já se encontra fechada e no seu lugar abriu recentemente a Oficina de Artes de Ourém, apadrinhada pelo artista plástico internacional Roberto Chichorro, que também vive na localidade. Não admira portanto que a notícia da intervenção da GNR tenha deixado a população em estado de choque pela detenção de um casal que não levantava suspeitas, apesar de pouco interagir com a comunidade.
Paula, de 35 anos, trabalha no Centro de Dia de Atouguia e é a mais conhecida entre o casal para a população do Vale da Perra. Natural da Loureira, localidade junto de Fátima, já no distrito de Leiria, sabe-se que teve um passado difícil. Após alguns negócios falhados, o primeiro marido partiu para o Brasil deixando-a com muitas dívidas. Na ocasião, foi a família quem lhe deu a mão para suportar as despesas, o que ainda hoje acontece.
Já do companheiro, de 33 anos, pouco se sabe. Não é da região e apesar de comentarem que teria trabalhado como pasteleiro, não se lhe conhece profissão. A mulher tem três filhos, o terceiro da actual relação, que foram entregues aos cuidados de familiares.
A casa onde mora a família e onde foi descoberto o complexo de produção de droga fica um pouco afastada do centro do Vale da Perra. Segue-se pela estrada da capela e entra-se por um caminho de gravilha, pelo meio dos montes. A família tem poucos vizinhos, a moradia está junto a uma subida algo íngreme e de acesso difícil, como a reportagem de O MIRANTE comprovou no local.
Desmantelamento de fábrica de droga agita pacatez da aldeia
Entre vizinhos e família sabe-se que o choque foi grande. “É uma aldeia pacata, sem casos conhecidos de droga, fora uma ou outra suspeita sobre pessoas que já abandonaram o lugar”, comenta um morador. Quem viu o aparato da GNR chegou a pensar que se tratava de uma penhora à casa e só mais tarde se soube que o casal havia sido preso. “Nunca se ouviu ali barulhos ou circulação de carros. Não se ouvia nada de estanho. São pessoas sem suspeita, boas para ajudar”.
Nos dias seguintes à descoberta da produção de cannabis e cogumelos alucinogénios, ainda havia entre a vizinhança quem se questionasse sobre que plantas eram aquelas e era evidente a surpresa por uma família tão pacata ter aparecido de repente nas notícias dos jornais e televisões. Não tinham sinais exteriores de riqueza e sabia-se das dificuldades financeiras com que se debateriam.
Na quinta-feira, 21 de Julho, o Tribunal de Ourém decretou pena de prisão preventiva ao casal, tendo o homem seguido para o estabelecimento prisional de Leiria e a mulher para a cadeia de Tires, onde vão aguardar julgamento. Esta medida pode ser decretada quando a pena em que se incorre é superior a três anos ou há perigo de fuga ou continuidade do exercício da actividade, no caso, tráfico de estupefacientes ou substâncias psicotrópicas.
O complexo desmantelado pela GNR após 15 dias de investigação, era composto por quatro estufas com sistema de irrigação, iluminação, aquecimento, ventilação, secagem e selecção de sementes para produção de cannabis e cogumelos alucinogénios, tendo sido apreendidas 250 plantas de cannabis e vários quilos da mesma planta pronta a ser consumida.
in O Mirante http://www.omirante.pt/
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